Conteúdo
Este é um material transcrito a partir de ensinamentos orais de Lama Padma Samten. Ele é usado exclusivamente para apoiar os estudos e práticas dentro da sanga, pedimos não reproduzir em outros sites. O material está em constante revisão e melhoria; quaisquer erros encontrados são devidos às limitações das pessoas envolvidas na transcrição e na edição, e serão corrigidos assim que possível.
Caso tenha contribuições para melhorar esta transcrição, entre em contato pelo email repositorio.transcricoes@gmail.com.
Tabela de conteúdos
- Roteiro de Meditação – 21 Itens
- LUCIDEZ!
- Item 1) Motivação - Refúgio, Bodicita, Chuva de Bênçãos:
- Item 2) Shamata impura:
- Item 3) Shamata pura:
- Item 4) Metabavana:
- Item 5) Prajnaparamita:
- Item 6) Repousar na presença: Visão do espaço básico, a Natureza Última
- a) Na prática de shamata:
- b) Na prática de shamata com foco na mente:
- c) Na experiência comum de observar um objeto:
- d) Na experiência comum desatenta:
- Construção do Bodisatva:
- Item 7) Lung do Elemento Éter:
- Item 8) Lung do Elemento Ar:
- Item 9) Lung do Elemento Fogo:
- Item 10) Lung do Elemento Água:
- Item 11) Lung do elemento Terra:
- Item 12) Sabedoria do Espelho – Buda Akshobia - Cor Azul:
- Item 13) Sabedoria da Igualdade – Buda Ratnasambava - Cor Amarela:
- Item 14) Sabedoria Discriminativa – Buda Amitaba - Cor Vermelha:
- Item 15) Sabedoria da Causalidade – Buda Amogasidi - Cor Verde:
- Item 16) Sabedoria de Darmata – Buda Vairochana – Cor Branca:
- Item 17) Vajrasatva:
- AS QUATRO CONFIANÇAS - OS QUATRO PODERES
- Item 18) Verdade:
- Item 19) Coragem:
- Item 20) Paciência:
- Item 21) Perseverança:
Roteiro de Meditação – 21 Itens
Lama Padma Samten
CEBB DARMATA E CEBB CM / 2008
Com revisões até setembro de 2011
LUCIDEZ!
A lucidez pode ser atingida em qualquer condição, aqui usaremos o silêncio como apoio para atingi-la.
Quando, por exemplo, recitamos o texto “Grandes Nuvens de Bênçãos” a lucidez brota como num Tsog, da sensorialidade e dos sentidos físicos operando. Aqui, porém, tomaremos esta instrução de prática de silêncio e a veremos como um meio hábil que é muito útil, muito favorável e avançaremos a partir deste ponto.
Quando estivermos em silêncio devemos passar por todos os itens abaixo descritos, usando o método do Pensar, Contemplar e Repousar, esta é a porta de saída do samsara.
Item 1) Motivação - Refúgio, Bodicita, Chuva de Bênçãos:
“Eu quero me livrar para produzir benefícios aos seres. A motivação surge como um mundo, todos estão nessa mandala ampla.”
Contemplamos:
. Estamos diante do sofrimento (o lago – água e lodo: todo o samsara);
. Aspiramos nascer sobre o Lótus por compaixão – vemos o Guru Rinpoche Vivo, que significa a inteligência viva, a capacidade de pensar, raciocinar e encontrar meios hábeis para beneficiar os seres;
. Yeshe Tsoguial representa a experiência sensorial – o mundo. Significa a nossa inseparatividade com relação ao universo;
. Motivação vajra: já estamos num ambiente favorável, a mente já entende o que tem de fazer;
. Guru Rinpoche tem:
- um vajra na mão direita – lucidez;
- uma taça de crânio na mão esquerda – mente;
- dentro da taça de crânio um vaso – darmakaya, compreensão da vacuidade;
- sedas e ornamentos – múltiplas sabedorias;
. Olhamos o que é relativo e reconhecemos o Ilimitado em toda a construção – Suprema Felicidade Sublime;
. ”Eles me fitam...” – entramos na prática.
A melhor motivação está sempre no nível de paisagem. Se estamos em uma casa e descobrimos que ela está queimando, não é necessário grandes explicações para saber que devemos saltar pela porta ou pela janela e sair correndo! Isso é paisagem. Se estivermos no nível de mente, deveríamos dizer assim: nós deveríamos sair pela porta ou pela janela, as opções são tais portas ou tais janelas. Tem menos força do que descobrirmos que a casa está em chamas. Se estamos no nível de energia, pensamos em como expiramos e inspiramos, em como organizamos nossa energia, para então sairmos pela janela ou pela porta. No nível de corpo também, nós temos uma instrução: primeiro colocamos um pé na frente, depois o outro, primeiro uma mão para trás, depois uma mão para frente, e nos deslocamos. Agora, se descobrirmos que a casa está em chamas, nós abandonamos tudo isso e saímos correndo do jeito que dá! Por isso, vou explicar a motivação no nível de paisagem, e, neste momento, vamos esquecer as outras.
No nível de paisagem é assim: a casa está realmente em chamas! A Primeira Nobre Verdade fala exatamente sobre isso, a existência do sofrimento e da impermanência, no final de certo tempo não sobra nada, queima tudo. Estamos em um ambiente onde mesmo nossas coisas mais próximas queimam, não há nada que não queime. Há também o sofrimento do sofrimento, que é quando a chama encosta, dói. O sofrimento maior não dói tanto na hora, é o sofrimento que toca a tudo e a todos, é o sofrimento pervasivo, que ocorre pela própria fragilidade de nossa vida e nossas identidades, nos montamos de modo frágil, é inevitável que isso desabe. Este é o ambiente da Roda da Vida; não é o mundo, mas um tipo de visão sobre ele.
Imaginem um lago preenchido por água (as lágrimas dos seres, manifestação desses três níveis de sofrimento). Quando refletimos sobre as causas desse sofrimento, encontramos os três venenos, os seis reinos, as seis emoções perturbadoras, os doze elos da originação interdependente. Dentro desse lago, a parte inferior do lago é o lodo, que pode ser descrito pelos três venenos da mente, pelos seis reinos ou pelos 12 elos. Estamos imersos nisso, no lodo. Muito importante compreendermos que há esse lodo e que há essas lágrimas, isso é a compreensão do mundo ao nosso redor. Ainda que estejamos numa linda manhã de sol, com as árvores todas floridas e perfumadas, num tempo não muito distante todas essas plantas vão desaparecer, e isso vai sendo constantemente consumido pelo fogo da existência.
Milagrosamente, do centro desse lago, nasce uma flor de lótus que simboliza a cura para essa dor, para esse incêndio. O mundo inteiro é visto como o lago e o lodo, e a flor de lótus simboliza o caminho da superação desta situação, são os ensinamentos que levam a liberação. É necessário que nós já tenhamos refletido bastante sobre isso, pois às vezes surgem reflexos coloridos no lago, a gente mergulha ali e é também muito interessante, ficamos um pouco fascinados pelo aspecto multicolorido da água e os doze elos. A lucidez manifestada pela flor de lótus é o próprio Buda, Guru Rinpoche sentado sobre ela. O lodo e o sofrimento podem ser superados. Guru Rinpoche é inseparável da consorte, do mundo físico, de tudo aquilo que diz respeito aos cinco sentidos. Se tomarmos o exemplo de Guru Rinpoche, nós não precisamos nos retirar do mundo, essa é a motivação da bodicita, a motivação Mahayana, a motivação de beneficiarmos todos aqueles com quem estamos em contato.
13 Itens para Contemplação da Motivação:
1 - Homenagem ao lama
2 - A vida humana preciosa
3 - Impermanência
4 - Carma
5 - O sofrimento
6 – Refúgio nas Três Jóias
7 - O Lodo
8 - A Água
9 - O Talo do Lótus
10 - A Flor de Lótus
11 - O Nascimento
12 - Radiância
13 - O Céu
Item 2) Shamata impura:
Interrompemos a operacionalidade comum do mundo, funcionando dentro de nós, e sentamos. Vamos praticar a liberdade de não precisarmos responder a um fluxo. Então respiramos!!!
É a primeira forma de contermos nossos impulsos cármicos; se não conseguirmos barrá-los, ficaremos presos neste processo incessante da Roda da Vida, ficaremos chamando esses impulsos de “eu mesmo”, ainda que esses impulsos sejam contraditórios. Procuramos focar a respiração, e ver nosso corpo se energizando pela própria respiração. Procurem localizar o que faz os olhos brilharem. Isso é a energia, o foco da meditação é esse. De resto, procurem manter o corpo relaxado. Esta shamata é impura, pois tem niroda. Se mergulharem nessa meditação, talvez se esqueçam do que ocorre no mundo ao redor. Se vemos uma coisa, deixamos de ver outra. Mas é uma meditação muito importante, é a primeira forma pela qual vamos conter a ação do samsara. O mais importante não é teorizar sobre isso, mas praticar, experimentar.
Item 3) Shamata pura:
Fazemos o mesmo que na shamata impura, mantemos esse brilho no olho e no corpo, mas agora aproveitamos nossos olhos e ouvidos para vasculhar ao redor. Não que vamos buscar isso, simplesmente nos mantemos abertos ao que ocorre no mundo externo e não respondemos. Percebemos o que é a mente dependente dos sentidos: se a mente está ligada aos olhos, ela está presa a uma sala, se ela segue o sentido auditivo ela vai longe. Com os olhos, por exemplo, não vejo os carros, mas eu ouço, e minha mente vai atrás. Vamos ficar em silêncio, ouvir o que está ao redor, olhar o que surge internamente, os pensamentos, e contemplar a transitoriedade deles. São como riscos numa superfície de água, tão pronto eles vêm, eles vão. A essência da prática de Shamata é não responder.
Item 4) Metabavana:
O que vemos nos seres não é o que está ali, propriamente, mas sim as marcas da nossa própria mente. Metabavana altera nossa capacidade de olhar para o mundo ao redor, ela nos coloca positivos mesmo quando o outro está negativo. Não se trata de analisar se o que o outro está fazendo é negativo ou não, simplesmente aspiramos à liberação dele. Não basta apenas meditarmos, ainda que tenhamos a habilidade de shamata, quando saímos e andamos pelo mundo, as coisas vêm até nós, e nós então aspiramos à felicidade e à liberação de todos os seres. Fazemos uma listinha de seres que encontramos regularmente e recitamos para eles:
1 – Que o “ser” seja feliz.
2 – Que ele se afaste do sofrimento.
3 – Que ele encontre as causas da felicidade.
4 – Que ele se afaste das causas do sofrimento.
5 – Que ele atinja a liberação de todo o carma, negatividade e ignorância.
6 – Que ele veja tudo com lucidez instantânea.
7 – Que ele verdadeiramente desenvolva a capacidade de trazer benefícios aos
outros seres.
8 – E que encontre nisso as causas da sua energia e felicidade.
Item 5) Prajnaparamita:
Purificação dos enganos cognitivos.
Coemergência / vacuidade dos 5 skandas:
. Olhamos as várias coisas (darmas) em todas as direções, vendo surgir o fora inseparável do que surge dentro (coemergência).Trabalhamos na superação da noção de que a realidade é externa e fixa. Diante das coisas podemos ver o surgimento da realidade sem a prisão que aquilo pode proporcionar.
Êxtase / Alegria:
. Substituímos a vacuidade pela noção de encantamento, alegria.
. Há alegria e brilho diante das coisas. Escapamos dos termos filosóficos e olhamos a brincadeira. Nosso olhar é lúdico.
. O aspecto do sorrir é a liberação do skanda.
“Diante da experiência (darma) e do surgimento da energia associada à forma... sensação... percepção, etc, vazia e luminosa, eu sorrio”.
“Diante da energia dinâmica que brota da forma vazia e luminosa, eu sorrio.”
(repetimos isso para cada um dos cinco skandas).
“Eu sorrio diante da minha própria identidade luminosa e vazia, diante da forma luminosa e vazia desta sala, etc.”
PRAJNAPARAMITA nos ajuda a compreender o aspecto luminoso da realidade e, ao compreendermos isso, podemos usá-lo num sentido positivo. Vamos analisar os 5 skandas (rupa/forma, vedana/sensação, samjana/percepção, samskara/formação mental e vijnana/consciência). Na literatura pré-budista, os 5 skandas são apresentados como a base da substancialidade da existência, são vistos nestas escolas como as evidências de nossa existência. O budismo vai na direção oposta, mostrando justamente a vacuidade dos 5 skandas. A compreensão do primeiro dos 5 skandas, rupa, como externo a nós, é a compreensão que vem da ignorância, de avidya. Pegamos o exemplo de um templo: ele parece vir das paredes, dos objetos que possui internamente. Porém, as pessoas que o construíram passo a passo não viam dessa forma, elas tinham a sensação de estar construindo vigas, paredes, colocando ferros. O templo brota por coemergência, a pessoa tem um templo dentro, olha e diz: “oh!!”.
Através da coemergência explicamos o fenômeno do surgimento do templo, e por consequência do mundo ao nosso redor. Quando entendemos o significado da palavra coemergência compreendemos que não há um templo no templo, e isto está correto, mas isto seria um extremo. Há também o outro extremo, e este extremo seria “há um templo no templo”. As duas percepções coexistem: ao mesmo tempo em que não há o templo no templo, há o templo no templo. Isso corresponde ao Caminho do Meio. Não dizemos as coisas definitivamente. Esta compreensão onde o templo não está nem num extremo nem no outro, isso é o Caminho do Meio, Madhyamika. O Buda introduz Madhyamika, Nagarjuna introduz Madhyamika, todo o budismo tibetano contempla isso.
Quando olhamos as formas, podemos dizer: a forma tem a vacuidade dela, ela é vazia dela mesma, mas a forma existe porque ela é luminosa.
O templo só existe pela luminosidade, e não de modo objetivo, pois as paredes poderiam produzir qualquer outra coisa. O aspecto mágico do templo é produzido pela luminosidade. Porém, enquanto falo tudo isso para vocês, isso é mente; mas quando entramos no templo há também o aspecto de energia presente: a pessoa diz “oh!”. É a energia se manifestando.
O fato de olharmos o templo, vazio/luminoso, provoca uma mudança na nossa energia. Quando olhamos com esses olhos, não é mais a energia do samsara que se manifesta na forma vazia e luminosa do templo, é a energia da Sabedoria Primordial, isso nos faz sorrir.
O sorriso significa que percebemos a magia daquilo e podemos segui-la, ou não.
Este é o mecanismo de contemplação do primeiro dos 5 skandas:
1 – Puxamos a forma como um exemplo prático à nossa frente (depois praticar também com os outros quatro skandhas).
2 – Contemplamos a coemergência (inseparável de quem olha)
2a – coemergência mente-forma
2b – coemergência mente-forma-energia-paisagem-identidade (bolha).
3 – Contemplamos o aspecto vazio (não tem aquilo dentro).
4 – Percebemos o aspecto luminoso (tem aquilo dentro).
5 – Contemplamos aspecto vazio/luminoso (é na forma que o vazio se manifesta).
6 – Contemplamos a energia (vejam o surgimento dos 5 lungs, os lungs dos 5 elementos) que se movimenta em nós.
7 – Contemplamos a magia disso tudo e a causalidade decorrente.
8 – Sorrimos! É assim que o Samsara nos pega! Natureza vajra. Oferenda de Samantabadra.
“Diante da energia, que brota da forma vazia e luminosa, eu sorrio.”
A liberação ocorre pelo riso e não pela seriedade, não pela dinamite, não pela vacuidade, nós não temos que destruir o mundo. Temos que iluminá-lo! Nós sorrimos para ele. Como alguém que repentinamente se vê de forma mais ampla do que se via. O samsara não é negativo, o samsara é lúdico. Nós sofremos dentro do samsara como as crianças também sofrem, por coisas muito simples. Nossa dor em samsara está ligada a energia; nós não só não vemos a energia como tomamos a obediência àquela energia como nosso refúgio fundamental. A única forma de superarmos isso é compreendermos este processo e sorrirmos! Essa energia é o sangue do samsara, é o que o movimenta. Precisamos não só entender o samsara, mas temos de absolver o samsara, liberá-lo, iluminá-lo. Prajnaparamita nos ajuda a compreender o aspecto xamânico da realidade.
Item 6) Repousar na presença: Visão do espaço básico, a Natureza Última
Reconhecendo ou não, incessantemente usufruímos da liberdade natural, seja na forma de luminosidade ou de potencial de ação. Aqui a meditação onde temos a clara presença disso:
Vindo do reconhecimento da natureza Vajra a partir da prática dos oito pontos da Prajnaparamita e do texto “Indo ao Ponto Último”, iniciamos em Shamata Pura, praticamos com o foco na natural estabilidade.
a) Na prática de shamata:
- De dentro da natural estabilidade, sem esforço, reconhecemos o espaço ilimitado, vivo, manifesto sem a necessidade da forma, bolha, ou de qualquer dos skandas, de discriminação, de observador ou identidade pessoal.
- Não procuramos nada, nem rejeitamos, apenas estamos presentes.
- Voltamos para a condição de lucidez discriminativa que brota da própria dimensão de onde as coisas surgem e desaparecem.
- Percebemos que este “estado parado” tem vida dentro. Espaço ilimitado de possibilidades, Darmata, lenço. Clara Luz mãe viva. Energia dinâmica.
- Repousamos na presença viva.
b) Na prática de shamata com foco na mente:
- Os pensamentos vêm e cessam; apenas observá-los é nossa prática inicial; não é preciso lutar contra eles, eles logo desaparecem.
- Mantendo esta prática, observamos agora o brilho que os cria incessantemente.
- Compreendemos: “Assim todas as coisas ganham nascimento e, depois de construídas, precisam do brilho para perdurar”.
- Contemplamos, então, a experiência da região livre dos pensamentos e flutuações, o espaço que não flutua e absorve as múltiplas aparições. O espaço onde tudo se desfaz e de onde tudo surge.
- Espacialidade e luminosidade incessantes, a Clara Luz é nossa face verdadeira, incessante, viva. O mesmo com toda a vida.
c) Na experiência comum de observar um objeto:
- Estamos agora diante de uma forma.
- Observamos a bolha correspondente.
- A forma não nos tira a visão do espaço primordial.
- Diante da forma seguimos vendo o espaço primordial e a luminosidade que sustenta a forma.
- Contemplamos adicionalmente a energia dinâmica do objeto.
- Vemos a forma e praticamos a “presença” diante dela.
d) Na experiência comum desatenta:
- Reconhecemos que a natureza primordial está incessantemente presente em todos os objetos, experiências e bolhas e, portanto, mesmo na ação comum no mundo!
- Agora, diante das experiências comuns ao nosso redor, focamos o potencial que as origina. Percebemos que liberdade, luminosidade e energia dinâmica representam o potencial que acionamos para produzir os significados e aparências das experiências sejam quais forem.
- Vemos, então, que mesmo em meio à experiência comum das bolhas, ali está a natureza primordial como espaço básico, presença intacta, disponível, na forma de liberdade, luminosidade e energia dinâmica.
- Reconhecemos que, mesmo na ausência de controle, ainda assim está presente a natureza primordial. Praticamos esse reconhecimento como uma forma de meditação.
- Vemos a mandala primordial incessante e nela tomamos o refúgio que está além do esforço, das construções, das meditações, das práticas espirituais ou controle.
- Desde o refúgio na mandala primordial vemos o natural surgimento da capacidade de olhar as coisas construídas e reconhecer os elementos artificiais através dos quais elas surgiram. Contemplamos isso que é a Sabedoria Primordial. Emaho!
Construção do Bodisatva:
Com os cinco elementos passamos a manifestar o nosso próprio corpo como um Bodisatva.
Estamos na mandala do Bodisatva onde a energia e ação são naturais.
Tudo o que olhamos vemos a partir da Presença.
Surge a Sabedoria Primordial do encontro da Mandala Primordial com a observação de como as pessoas operam limitadas por avidya.
Nos movimentamos com propósito (éter), expansão (ar), energia (fogo), flexibilidade (água) e força (terra), em meio ao mundo.
Quando surgem os Cinco elementos do Bodisatva, aparecem naturalmente as Seis Sabedorias, ou seja, as sabedorias dos Cinco Diani Budas e a sabedoria de Vajrasatva. Com cada sabedoria uma inteligência e um universo maravilhoso surgem, correspondentemente (mandala), com seus aspectos de mente, energia e lung.
Item 7) Lung do Elemento Éter:
1. Olhamos para os seres e vemos o quanto estão presos no samsara.
2. Reconhecemos a liberdade natural em todos os seres e sua capacidade de liberação (este é o olhar dos bodisatvas, eles entendem os dois mundos).
3. Vemos surgir dentro de nós o elemento éter, (um brilho nos olhos seguido de um impulso, uma energia, uma eletricidade de socorrer os seres seja onde eles estiverem).
4. Não enrijecemos a situação deles justamente porque não há solidez, mas sim liberdade. Eles podem ultrapassar aquela situação.
5. Tomamos como referência nossa experiência de presença e lucidez diante das coisas e percebemos o que as pessoas veem quando olham, como se enganam, como estão perdidas, vemos a experiência de prisão dos outros seres.
6. Brota a energia associada ao elemento éter com a aparência da vontade de ajudá-los.
Item 8) Lung do Elemento Ar:
Quando acionamos o elemento éter, como decorrência acionamos o impulso de respirar. O elemento ar surge a partir da clareza do elemento éter. É o elemento da vida, o sopro que sustenta. Na sequência, naturalmente respiramos, nos endireitamos a partir da eletricidade do elemento éter.
É o natural movimento de expansão surgido do contato com o universo. Veja!
Item 9) Lung do Elemento Fogo:
Quando o ar entra, ele traz energia, aquece o nosso corpo. É o elemento fogo.
Energia de vida. Veja!
Item 10) Lung do Elemento Água:
É o elemento da mobilidade, faz o corpo se mover. Rege a mobilidade e flexibilidade.
Surge do elemento fogo. Veja esse surgimento na forma do impulso de movimento.
Item 11) Lung do elemento Terra:
Faz o corpo ganhar força.
Produz a presença no mundo.
Traz firmeza, sustenta as identidades.
Para o samsara, representa o apego.
Para os bodisatvas é a afirmação do seu interesse em trazer benefício a todos os seres.
Surge dos outros elementos e os estrutura, dá consistência a eles.
Item 12) Sabedoria do Espelho – Buda Akshobia - Cor Azul:
Quando olhamos para um espelho não o vemos, mas vemos imagens refletidas, reflexos de ações. A imagem é limpa, sem distorções. Ao olharmos os seres, não confundimos o outro com o conteúdo (aquilo que o espelho reflete incessantemente, sob formas diversas), mas visualizamos a pureza da natureza última. Nossa mente é como um espelho: não muda, só as imagens e formas são refletidas.
Sabedoria do espelho: reflete incessantemente os fenômenos, mas não se apega a eles. Assim deveríamos agir.
DAMOS NASCIMENTO – Capacidade de acolher os seres do jeito que eles chegarem. Aquele ser não é aquilo. Aspiramos que se livre. Então agimos com: compaixão, amor, alegria, equanimidade, generosidade, moralidade, paz, energia constante, concentração e sabedoria.
Item 13) Sabedoria da Igualdade – Buda Ratnasambava - Cor Amarela:
Base da noção de onisciência do Buda: colocar-se no lugar do outro e operar a partir daí. Visualizar as dificuldades de se imaginar no contexto onde os seres estão. Conseguindo isso, ao ver os outros seres em dificuldade, ver se brota o lung, uma energia que nos faz nos movimentar em direção ao outro. Não pertence aos seres ou a um indivíduo, é uma inteligência do Buda que pode ser acessada, tem vida própria.
Capacidade de olhar os outros seres e ver surgir um interesse genuíno em facilitar, promover ou amparar as qualidades positivas que encontramos neles. Cuidar deles ou cuidar de nós passa a significar a mesma coisa. Então agimos com: compaixão, amor, alegria, equanimidade, generosidade, moralidade, paz, energia constante, concentração e sabedoria.
Item 14) Sabedoria Discriminativa – Buda Amitaba - Cor Vermelha:
Todos os ensinamentos do budismo, as quatro nobres verdades e o nobre caminho de oito passos. É a inteligência que olha para o samsara e nos permite manter lucidez e serenidade em meio à roda da vida. É o Buda que possui uma terra pura. Amitaba significa a purificação de todas as marcas cármicas do samsara, que vendo tudo como impermanente faz brotar o lung para superar a existência cíclica.
Ajudamos com visão lúcida. Direcionamos o outro, damos um eixo positivo, enxergando a partir das quatro nobres verdades e do nobre caminho óctuplo. Então agimos com: compaixão, amor, alegria, equanimidade, generosidade, moralidade, paz, energia constante, concentração e sabedoria.
Item 15) Sabedoria da Causalidade – Buda Amogasidi - Cor Verde:
Sempre que fazemos alguma coisa, isso tem uma consequência. Ensinamento de como cuidar de nossas ações e colher resultados positivos, brotando um lung verdadeiro de superar as estruturas cármicas. Esforço de olhar para dentro dos carmas e dissolvê-los. Visualizar o modo como Guru Yoga produz a dissolução das emoções negativas e aflições e utilizar a sabedoria última para a purificação.
Nossa capacidade de intervir, quer o outro ache aquilo bom ou não. Ação necessária. Capacidade de atravessar a barreira (o que é agradável e o que é desagradável) e fazer o que precisa ser feito. Então agimos com: compaixão, amor, alegria, equanimidade, generosidade, moralidade, paz, energia constante, concentração e sabedoria.
Item 16) Sabedoria de Darmata – Buda Vairochana – Cor Branca:
Fala sobre a natureza última quando sentamos; abandonamos todos os apegos, identidades e repousamos na nossa natureza última. Verificar se o lung do estado meditativo, que sustenta a meditação, está presente. Contemplamos esse lung e o sustentamos.
Nossa capacidade de fazer o outro reconhecer sua Verdadeira Natureza. Proporcionar ao outro a capacidade de ver também com lucidez, de ultrapassar a ignorância do samsara, a visão condicionada. Então agimos com: compaixão, amor, alegria, equanimidade, generosidade, moralidade, paz, energia constante, concentração e sabedoria.
Item 17) Vajrasatva:
A natural perfeição de todas as coisas: No surgimento, a liberação!
Tudo aquilo que criamos dentro de nós mesmos (sofrimentos, aflições, emoções negativas) reflete uma natureza última, que produz todas estas experiências. Os objetos e os pensamentos são dotados de uma energia dinâmica que, aparentemente, nos exige responsividade. Tudo no mundo externo (imagens, experiências, objetos) transmite energias, lungs, que são naturalmente puros por virem da natureza última. Não importa o conteúdo, pois este somos nós que criamos com nossa mente discriminativa: os fenômenos são puros por manifestarem a natureza última. A Sabedoria de Vajrasatva permite trabalhar a natureza última em todos os fenômenos. Olhamos para todas as coisas e vemos a Natural Perfeição delas. Então agimos com: compaixão, amor, alegria, equanimidade, generosidade, moralidade, paz, energia constante, concentração e sabedoria.
AS QUATRO CONFIANÇAS - OS QUATRO PODERES
Item 18) Verdade:
Sobre todos os pontos anteriores. Esta é a abordagem mais sofisticada do Buda. É preciso meditar sobre isto para manter vivos estes princípios. É a culminância dos itens anteriores que contemplamos com todo o cuidado. É como as coisas verdadeiramente são, é o que precisamos ter em mente quando andamos no mundo. É nossa prática, aquilo que vamos fazer no mundo. O poder da verdade significa que não estamos presos, que temos uma Natureza Livre, além de vida e de morte, e que as prisões se constroem de forma artificial. Temos isso vivo dentro de nós.
Item 19) Coragem:
Para viver no mundo a partir da Verdade e de todos os elementos aqui citados. Contemplamos tudo com cuidado, vemos que tudo é verdade, e assumimos com coragem. Tomamos a verdade como ponto principal, e com coragem vamos simplesmente nos movimentar assim. Temos obstáculos e outras situações difíceis, vamos precisar de coragem. Vemos as coisas como elas são e agimos com lucidez. Manifestarmos coragem não é rompermos com as pessoas, etc. Estaremos nos mesmos lugares, só que de outro jeito.
Item 20) Paciência:
Primeiramente, com nós mesmos. Estamos enraizados no samsara. Não cultivar a culpa é a base da confissão suprema. Lei do esforço: fazemos algum esforço, nem pouco, nem muito.
O Universo se move e nos ajustamos do melhor modo para segui-lo.
Existem coisas que a gente não consegue por força própria: é necessário um espaço para o céu se mover. Paciência conosco e com os seres, porque não temos a perfeição. Vamos falhar, certamente. Precisamos de paciência para que a situação não surja para nós como um poste (tensão). A situação deve surgir como um vento que movimenta nosso cata-vento que, bem posicionado, gira sempre numa posição positiva. Não precisamos de resultado rápido, precisamos é de lucidez.
Item 21) Perseverança:
Temos paciência, não desistimos com as dificuldades, e seguimos em frente. Ainda que tenhamos falhas, não vamos nos culpar ou desanimar, ou desistir. Vamos seguir perseverantes para atingir a realização disso. Não desistimos, apesar de ainda fazermos as coisas erradas. Mantemos o propósito. Continuamos na posição correta do cata-vento, ou ajustando-a. Não desistimos dessa posição. Ajustamos até que aquilo funcione. Não introduzimos a dúvida com respeito ao item verdade. Não abandonamos a compreensão.